segunda-feira, 16 de julho de 2012

Medo teutônico, lógica tupiniquim

Serei até ufanista, alguns dirão. Pouco me importo. Analiso a questão sub occulis - ainda não revelada, quiçá eu seja homem dado a segredos - sem eivar-me de certa hipocrisia de desvinculação. Pelo contrário, estou cheio de orgulho tupiniquim. Sou, por óbvio, totalmente parcial. Mas vamos ao Hauptgericht.
Tenho me atentado bastante para o enorme ba-fá-fá que as mídias teutônicas tem feito em relação ao pacote salvador que o Velho Mundo enviou ao Mais Velho Mundo. Nas entrelinhas todos lemos Europa e Grécia. Caso sejamos aqueles belos caucasoides tão idolatrados pelos tupiniquins - especialmente os do sul - leremos outra coisa, eis que certamente os termos Deutschland e Arbeitslos estarão perdidos em algum lugar ali. E os copycats em nada divergem do que se constrói midiaticamente em terras bárbaras: a Alemanha tem um novo inimigo.
E pasmem-se todos, o Brasil é pioneiro nesta lambança intelectual. Explico-me: há muito que os jornalecos de Berlim, inspirados pelos plins-plins alienantes de terrae brasilis, buscam concretizar um inimigo comum, um ente forme, mas anônimo a quem se possa culpar (qualquer semelhança com um ocorrido lá pela primeira metade da década de quarenta não parece ser relevante, nem incomodar os nobres europeus). Um belo exemplo disso nos é consignado pelo Senhor Thilo Sarrazin, ex-banqueiro franzino e bigodudo cujo sorriso é mais raro do que Acadêmico do Unicuritiba que tenha lido algo mais elaborado que Paulo Coelho. O digníssimo senhor - aparto-me de minha usual ironia, afinal uma palavra desse sábio vale mais do que todas as minhas. E do que meu fígado. E do que meus dois pulmões -  é Autor da consagrada obra da direita alemã "L'Allemagne court à sa perte'' (A Alemanha se extingue a si mesma), um dos maiores best-sellers além-Reno desde 1945, onde o casmurro Autor nos ilumina com a pintura apocalíptica de uma nação devastada pela imigração, pelo Islã e pelo peso demográfico dos "trabalhos menos inteligentes". Graças a Deus- e sim, agora estou sendo irônico - o Autor nos trouxe outra polida abordagem do status quo Europeu: Europa braucht den Euro nicht - A Europa não precisa do Euro. Embora o título seja até de certa inocuidade, o conteúdo é bastante agressivo. Nele, o ensaísta incita a prospera Alemanha  - que ainda não está completamente morta - a cavalgar sozinha e não depositar nem mais um centavo em seus parceiros mediterrâneos. Além disso, uma infinidade de manchetes suculentas alimentam o público em geral ("defraudadores do Peloponeso", "euro mussacá" e ''aposentadoria de luxo dos gregos") com uma interpretação bastante cômoda da crise, à base de clichês regurgitados por bancos e grupos empresariais de grande porte. Cito como exemplo certa reportagem do dia 26/04/2010, do jornal Bild Zeitung onde tudo quanto exposto alhures nos é  graciosamente resumido, confira-se: "O Bild (Banco Interamericano de desenvolvimento) se rendeu ao país das bancarrotas e das aposentadorias de luxo, de defraudadores fiscais e aproveitadores"
Certamente que, como mulheres dadas a certa libertinagem (longe de mim reclamar), um país com certo histórico deve ter suas chamas acesas por este tipo de esbravejar balbuciante, não? Correto. Mais uma vez a mais simples e profana lógica que eu e o caro leitor constatamos de plano não parece cair aos ouvidos dos mesmos que propagam esse elaboradíssimo e inovador discurso de que "tudo é culpa dos pobres vagabundos que não trabalham por que não querem". Ou será que cai?
"E o que tem a lógica tupiniquim a ver com o medo teutônico que você tão sápiamente descreveu, Weiss?"
A resposta é simples, ávido leitor. Lembremos de um simples evento - e dou-lhe a vênia para pensar em tantos quantos lhe apetecerem - ocorrido há pouco nesta terra dos papagaios. Falo da fúria pequeno-burguesa quando da construção se um simples albergue em Higienópolis, bairro todo chique e pomposo da cidade de São Paulo. Como argumento que ensejasse sua insurreição, os moradores com seus poodles rosados ano colo assim afirmaram em requerimento ao Ministério Público:

Pois bem. O Promotor de Justiça, para minha surpresa e de muitos que leram seu decisum, não só pareceu ter um bom domínio da língua portuguesa, como também de certo aspectos técnicos do Direito e, mais ainda - para meu quase enfarto do miocárdio - demonstrou ter a plena capacidade de raciocinar lógicamente, coisa rara no meio "jurístico". Vejamos o que decidiu o membro do Ministério Público:
E é com essa demonstração da mais refinada mentalidade da elite econômica brasileira que chego ao final dessa postagem, certo de que me equivoquei, afinal a asnice é muito mais velha do que terrae brasilis. Porém, conforme eu mesmo havia admitido nas primeiras linhas deste escrito, sou quase ufanista e, portanto, deixo clara a minha satisfação: a idiotia tupiniquim está dominando o mundo.

3 argumentações ou devaneios:

  1. E encontramos o Oscar Wilde tupiniquim! Inclusive com certas "excentricidades" inclusas, que não só a ironia.

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  2. Hoje de manhä estava em condições de ler...

    E tenho a dizer que infezlimente o jornal citado por Vc. é um das mais baixas categorias da Alemanha e que palavras escolhidas cuidadosamente por Vc. para escrever esse texto, nunca teria equivalente nesse jornal. Se equipara ele ao Tribuna. Por isso não conseguira entender a comparação que Vc. fez com a Alemanha. Outra ponto; dizer que a Alemanha está sendo influenciada pelos tupiniquins, isto está longe de acontecer. Muitos alemães mal sabem a capital desse país. E se Vc. vir algun dia um jornal norte-americano, verás que o jornalismo daqui é quase um plágio do referido.

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  3. Eu sei que o jornaleco é absurdo, por isso mesmo o citei. É esse o ponto, revelar o que o senso comum mais raso anda pensando por aquelas bandas. Quando citei a "inspiração" estava, por obvio, sendo ironico.
    Deveria ter utilizado os termos "parece ter sido inspirado".
    Eu não quis ir mais profundo no artigo porquanto não havia necessidade, mas é uma política atual da direita Alemã construir a imagem dos gregos como eu demonstrei que constrói.

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